Surgido no final da década de 40, o samba-enredo firmou-se como um dos mais famosos gêneros musicais do Carnaval com a consolidação do desfile das escolas de samba como a principal atração da folia carioca. A partir dos anos 60, com o lançamento do disco oficial, os sambas das escolas cariocas conquistaram corações e mentes de foliões do Oiapoque ao Chuí. A World Latin Entertenainers fez uma seleção de sambas para você relembrar as músicas que marcaram os carnavais e para o folião se preparar para o baticum dos sambódromos, blocos e bailes de Carnaval de todo o Brasil. Veja a seleção e ouça os sambas-enredos.

Desfile do Salgueiro, no Rio, em 1993, com o enredo “Peguei um Ita no Norte”
1964 – Império Serrano – “Aquarela Brasileira” (Silas de Oliveira)
Um dos maiores clássicos do gênero, foi gravado posteriormente por Martinho da Vila. Graças à força do samba, inspirado no clássico “Aquarela do Brasil”, o Império Serrano entrou na avenida como um dos grandes favoritos ao título do Carnaval de 1964. Porém, a notícia da morte de Ari Barroso pegou a escola de surpresa durante a concentração e abateu o ânimo de seus componentes. O Império ficou em quarto lugar. Em 2004, o samba foi reeditado pelo Império e, apesar da emoção que tomou conta das arquibancadas, a escola terminou em nono.
1969 – Salgueiro – “Bahia de Todos os Deuses” (Bala e Manuel Rosa)
Esse foi um dos primeiros sambas a transpor os limites da passarela e estourar em todas as paradas de sucesso graças à gravação de Jair Rodrigues. Com um desfile antológico e empolgante, a vermelho e branco da Tijuca conquistou com méritos o Carnaval de 1969.
1971 – Salgueiro – “Festa para Um Rei Negro (Pega no Ganzê)” (Zuzuca)
O compositor Zuzuca, seguindo os passos de Martinho da Vila, simplificou o samba-enredo, com versos curtos e refrães pegajosos. Poucos sambas foram tão gravados e difundidos quanto este – tanto que, até hoje, sua melodia é entoada pela torcida do Barcelona.
1976 – Império Serrano – “A Lenda das Sereias, Rainha do Mar” (Vicente Matos, Dinoel e Veloso)
Muitos conhecem essa canção do repertório de Marisa Monte, mas que, na verdade, é um dos mais antológicos sambas-enredo da escola de Madureira. Tanto que foi reeditado no Carnaval de 2009, em sua última passagem pelo Grupo Especial.
1978 – Beija-Flor – “A criação do mundo na tradição nagô” (Neguinho da Beija-Flor, Gilson Dr. e Mazinho)
Samba que conduziu a escola de Nilópolis a um tricampeonato sob a batuta de Joãosinho Trinta. Muitos não repararam, mas seu refrão foi adaptado para as arquibancadas e é muito entoado pelas torcidas do Vasco e do Santos.
1978 – União da Ilha – “O Amanhã” (João Sérgio)
Mais um samba que transcendeu os limites da passarela de desfiles e tomou conta das paradas de sucesso. A gravação de Simone transformou o samba da União da Ilha em hit que atravessa gerações. A tricolor, no auge do processo criativo da carnavalesca Maria Augusta, beliscou um comemorado quarto lugar.
1981 – Portela – “Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite” (David Corrêa e Jorge Macedo)
Esse samba-enredo conseguiu uma marca inigualável: manteve-se nas paradas de sucesso durante seis meses no ano de 1981. A azul e branca de Madureira perdeu as contas do número de apresentações que fez em programas musicais e de auditório ao longo do período pós-carnavalesco.
1982 – Império Serrano – “Bumbum Paticumbum Prugurundum” (Beto Sem Braço e Aluisio Machado)
Samba que conduziu o Império Serrano ao seu último campeonato, criticou, com muita autoridade e competência, o processo de crescimento desenfreado do desfile das escolas de samba e o seu afastamento da sua identidade cultural. Com um refrão inesquecível, embala até hoje muitos blocos e bailes de Carnaval.
1982 – União da Ilha – “É Hoje” (Didi e Mestrinho)
Um dos sambas-enredo mais conhecidos e cantados da história do Carnaval, estourou nas paradas com versões de Caetano Veloso e Fernanda Abreu. É tão famoso que muita gente até se esquece de foi composto para o desfile que conduziu a União da Ilha ao quinto lugar no Carnaval de 1982.
1984 – Portela – “Contos de Areia” (Dedé da Portela e Norival Reis)
Em homenagem à Clara Nunes, Natal e Paulo da Portela, esse samba foi a trilha sonora do último campeonato da escola de Madureira e, até hoje, é sempre cantado, com um misto de orgulho e saudade, por portelenses e até torcedores de outras escolas.
1985 – Caprichosos de Pilares – “E por falar em saudade” (Almir Araújo, Marquinhos Lessa, Hércules Corrêa, Balinha e Carlinhos de Pilares)
A simpática escola de Pilares conquistou a Sapucaí em 1985 com um samba bem humorado, irreverente e politizado. Ao mesmo tempo em que afirmava que o carnaval tinha “bumbum de fora pra chuchu”, o samba afirmava que o brasileiro tinha saudades da gasolina barata e de votar para presidente da República.
1986 – Mangueira – “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia tem e a Mangueira também” (Ivo Meirelles, Paulinho e Lula)
A Mangueira conquistou o título de 1986 com uma homenagem a Dorival Caymmi que arrebatou o público do Sambódromo. O refrão “Tem xinxim e acarajé/ Tamborim e samba no pé” até hoje sacode a quadra da escola e embala qualquer bloco de rua que desfile pelo Rio de Janeiro.
1987 – Estácio de Sá – “O Tititi do Sapoti” (Darcy do Nascimento, Djalma Branco e Dominguinhos do Estácio)
Fundada nos anos 50, a Unidos de São Carlos mudou, em 1983, seu nome para Estácio de Sá disposta a se firmar no grupo das escolas postulantes ao título. Com um enredo divertido de Rosa Magalhães e este samba, a vermelha e branca conquistou a simpatia popular e o quarto lugar no Carnaval de 1987. O samba foi reeditado em 2007, quando a escola, já sem o viço dos bons tempos, tentou permanecer no Grupo Especial – sem sucesso.
1988 – Vila Isabel – “Kizomba, Festa da Raça” (Luiz Carlos da Vila, Rodolpho e Jonas)
No ano do centenário da Abolição, a Vila Isabel realizou um desfile antológico exaltando a negritude e repudiando o Apartheid. Embalada por um samba emocionante, conquistou seu primeiro título em um espetáculo que não teve repetição – devido às fortes chuvas que assolaram o Rio de Janeiro, não houve Desfile das Campeãs em 1988.
1989 – Imperatriz – “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós” (Niltinho Tristeza, Preto Joia, Jurandir e Vicentinho)
Disputando ponto a ponto com o inesquecível desfile “Ratos e Urubus, larguem minha fantasia”, da Beija-Flor de Joãosinho Trinta, a Imperatriz ganhou o campeonato escorada em um samba-enredo primoroso, de lindíssima melodia e, ao mesmo tempo, empolgante. Recentemente, foi tema de abertura da novela “Lado a Lado”, da Rede Globo.
1989 – União da Ilha – “Festa Profana” (J.Brito, Bujão e Franco)
Deus Baco curtiu, com certeza. Contando a história do Carnaval, a União da Ilha emplacou um de seus maiores sucessos na avenida, dando um verdadeiro porre de felicidade que a levou ao terceiro lugar, um ponto atrás da Imperatriz e da Beija-Flor de Nilópolis. Nesse desfile, a modelo Enoli Lara desfilou completamente nua – o que gerou a modificação no regulamento do desfile proibindo a “genitália desnuda”.
1991 – União da Ilha – “De bar em bar, Didi um poeta” (Franco)
Homenageando o maior compositor de sua escola, Didi, a União da Ilha prosseguiu com sua ode etílica na avenida. Retratando o universo do poeta, fez uma viagem pelo cotidiano dos bares declarando em seu principal refrão que “Hoje vou tomar um porre/ Não me socorre que estou feliz”.
1992 – Mocidade – “Sonhar não custa nada” (Paulinho Mocidade, Dico da Viola e Moleque Silveira)
Bicampeã do Carnaval em 1990 e 1991, a Mocidade entrou na avenida já se sentindo tricampeã graças ao imenso sucesso popular de seu samba. Exaltando o sonho em um enredo genial do carnavalesco Renato Lage, a escola de Padre Miguel eternizou um dos sambas mais cantados até hoje em todas as quadras e salões de baile do país. A confiança excessiva acabou deixando a Mocidade com o vice-campeonato.
1993 – Salgueiro – “Peguei um Ita no norte” (Demá Chagas, Arizão, Celso Trindade, Bala, Guaracy e Quinho)
Èxtase. Catarse. Algo inigualável aconteceu na Sapucaí quando o Salgueiro entrou na pista no Carnaval de 1993. Em transe, o público fez ola e saudou enlouquecidamente o samba salgueirense. Até hoje, a Sapucaí ouve o eco do “Explode coração/ Na maior felicidade/ É lindo meu Salgueiro/ Contagiando e sacudindo essa cidade”. Mais uma taça na sala de troféus.
1994 – Mangueira – “Atrás de verde e rosa só não vai quem já morreu” (Fernando de Lima, David Corrêa, Carlos Sena e Paulinho de Carvalho)
Com uma legião de torcedores apaixonados em todo o país, a verde e rosa encheu-se de otimismo em 1994. Afinal, seu enredo homenageava os Doces Bárbaros: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa. O samba, executado à exaustão nas rádios, encheu o mangueirense de confiança para o desfile. Porém, muitos problemas na avenida empurraram a escola para o décimo-primeiro lugar. Mas o samba permaneceu na memória popular e embala gritos de torcidas de futebol.
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